2 de jul. de 2012

O Estigma Mitológico Apologético da criminalidade bem sucedida. (Parte I)

No popular, isso significa apenas dizer: "se o ladrão quiser, nada pode contê-lo". Será que isso é verdade?

Com 17 anos de experiência no ramo, ouso discordar disso. Defendo a tese de que esse comportamento existe apenas para justificar o baixo investimento em medidas preventivas de segurança - que não trarão renda, mas algumas despesas.

Veja o repeito que o "Senhor" Ladrão ganhou desse pequeno gestor, que adotou medidas simpáticas ao crime (criminosas) para tentar amenizar seu problema de segurança.
 O problema é que, nos parâmetros do sistema econômico capitalista, não há lugar para despesas, só para lucros. Por isso, os gestores mantém prioridade, foco e investimentos nos setores que produzem renda nas organizações, afastando a Cultura da Segurança para conter despesas, mesmo que necessárias. O baixo nível de investimento em medidas preventivas de segurança e as altas taxas de omissão, negligência e impunidade é que trazem como consequência o sucesso criminoso.

O sucesso criminoso e a baixa autoestima dos gestores desenvolve o estigma mitológico da criminalidade bem sucedida. A glamourização dos atos criminosos e a apologia ao crime surgem para encobrir o fracasso da gestão de segurança, que trazem como justificativa frases como esta: "não importa o que se faça, os criminosos serão sempre bem sucedidos"...



O Estigma Mitológico Apologético da criminalidade bem sucedida. (Parte II)

MISTICISMO NA SEGURANÇA
O pensamento mitológico deixa os gestores inertes, rendidos por antecipação. O curioso é que os gestores mudam esse pensamento (e comportamento) assim que os crimes ocorrem. Ao sofrerem crimes reais os gestores "acordam"! Saem da inércia e tomam medidas urgentes (e concretas) de segurança...

Na realidade, os fatos criminosos (ocorridos no ambiente dos gestores) fazem o mito desaparecer instantaneamente - ao menos até que a sensação de segurança local volte e traga de volta a costumeira negligência, com sua velha justificativa (mitológica) contra gastos na segurança.

Continue lendo e saiba como evitar o azar.

O que o sucesso criminoso torna claro é o fracasso da gestão capitalista de segurança, onde o sistema econômico gera riscos e dificulta as soluções de segurança. Sistema em que os gestores não agem preventivamente aos riscos, apenas reagem aos fatos criminosos já ocorridos nas organizações. Reações póstumas e ineficazes, que acabam saindo muito mais caras e imprevisíveis. Sistema que obriga todos a supervalorizar o dinheiro, desvalorizar a segurança, menosprezar a natureza e a vida humana...

O Sistema econômico gera o Estigma Mitológico Apologético, que gera e mantém essa inércia - enquanto os gestores ainda estão se sentindo razoavelmente seguros. A partir daí, são os fatos criminosos, traumas e prejuízos que vão fazer essa inércia desaparecer.

Nos momentos de desespero, os gestores passam a gastar dinheiro e a comprar qualquer "solução" disponível no mercado, sem qualquer planejamento. Além das fábulas criminais, entre outras crenças e superstições, alguns gestores passam a acreditar que o "mercado" oferecerá soluções instantâneas de segurança, em kits embrulhados para presente...

Passado o susto, os gestores escondem o fracasso fático da gestão atrás da a mitologia apologética do crime. Uma complicação que obscurece os fatos para aliviar a vergonha dos gestores, vitimas do sistema econômico e cultural vigente. Afinal, é mais "vantajoso" ser roubado por Semideuses do crime que perder para simples ladrões de galinha: pobres, desnutridos e desqualificados; que praticam crimes banais, plenamente evitáveis.

Outros gestores preferem soluções mais drásticas e criminosas, fornecidas pelos próprios bandidos ou milícias, pensando serem estas mais rápidas e eficazes. Justificam: "Se não pode vencê-los, junte-se à eles": uma evolução sinistra do velho pragmatismo amoral capitalista.

No sistema econômico capitalista, investir é mesmo uma ousadia. Assim como o crime, a Segurança é um empreendimento: requer vontade, planejamento, inteligência, capacitação, tecnologia, responsabilidade, comprometimento, sinergia e coragem de investir. Entretanto, a segurança não vai trazer lucros, vantagens econômicas ou comerciais. Por isso, a segurança é coisa cada vez mais rara.

Paradoxo: como combater Semideuses do crime com simples profissionais da segurança, reris mortais? Seria necessário contratar a própria Securitas, a Deusa da segurança do império romano? Será que os profissionais da segurança, justamente por serem apenas reris mortais, poderiam enfrentar os Semideuses do crime, cobrando um "preçim bem baratim"?

Diante de tantas incertezas, os gestores não enxergam os riscos e nem a segurança (não existem sintomas visíveis dos riscos ou da segurança), só os custos($). Ao evitar custos, a maioria acaba evitando mesmo é a segurança...

Assim, muitos gestores se mantém capitalizados e desprotegidos, mitológicos e cheios de fé, sem saberem como investir e nem a quem confiar uma consultoria para auxiliar sua gestão de segurança. Por isso, muitos gestores rezam aos Deuses, sem fazerem os empreendimentos necessários em segurança.

Aos avarentos, sugiro que rezem em casa, pois, rezar na igreja pode custar 10% (dízimo) de toda a sua renda. Essa é a lógica desse sistema econômico, gerador de riscos e de certos tipos de fé...

O Estigma Mitológico Apologético da criminalidade bem sucedida. (Parte III)

INTELIGÊNCIA NA SEGURANÇA
Além de ser um complexo de problemas (econômico, social, místico, religioso, administrativo, tecnológico, operacional...), a segurança também é um paradoxo moral: como pode um jovem “desqualificado” ter tanta dificuldade para conseguir um empreguinho nas "inatingíveis" organizações e, ao mesmo tempo, ter tanta facilidade para roubar estas mesmas organizações?

Além da vantagem econômica obtida ilegalmente, esse previsível crime faz uma prova perversa da "inteligência" desse jovem criminoso. Pior: prova a falta de inteligência da organização, da sociedade, do Estado e do próprio sistema econômico...

Enquanto os marginais estão desmistificando (e roubando) as organizações (dentre elas os condomínios e as igrejas), as organizações estão percorrendo o caminho inverso. Os gestores estão recuando; regredindo diante dos paradoxos morais devido aos parâmetros ecônomicos.

Sem romper algumas regras do pensamento econômico, fica difícil criar coragem e implantar estratégias e políticas de segurança necessárias, sem infringir a lei. Aliás, muitos preferem infringir a lei que sair dos parâmetros do sistema econômico (lucros e vantagens)...

Diferente do fracasso, o sucesso da segurança é invisível, já que as ações criminosas, quando evitadas, ninguém percebe. Entretanto, é conveniente (?) que fique assim, pois, de acordo com as regras do sistema econômico, a maior visibilidade do sucesso da segurança privada tornaria o serviço mais caro, e afastaria ainda mais a segurança das organizações econômicas, focadas apenas no lucro...

Na verdade, esse preço acaba sendo regulado mais pela inércia dos gestores (em demanda negativa) que pela "saudável concorrência". Isto é outra incoerência do sistema econômico: neste setor (segurança) não deveria existir concorrência, mas sinergia entre gestores, colaboradores, usuários, Estado e sociedade...

Particularmente, penso que a segurança deveria ser monopólio exclusivo do Estado, e não deveria ser jamais privatizada. Contudo, haja vista a qualidade da administração pública, dos eleitores e dos políticos eleitos, onde tudo é corrompido por esse sistema econômico...

Na segurança Privada, mesmo que os objetivos estratégicos estejam sendo plenamente alcançados na organização, ninguém vê. Por isso, muitos colaboradores acham que a segurança é uma luta inglória - o que nos traz de volta ao estigma mitológico apologético da criminalidade bem sucedida...

Assim, fica escondido o sucesso da estratégia de segurança, havendo ainda quem diga que o dinheiro foi gasto à toa, vez que não houve crime... Porém, quando as ações criminosas são bem sucedidas, e visíveis, elas revelam imediatamente o fracasso da gestão de segurança, exigindo muitas explicações dos gestores, de quem se pretende cobrar os prejuízos... Coisas do capitalismo.

O Estigma Mitológico Apologético da criminalidade bem sucedida. (Parte IV)

MORAL DA SEGURANÇA.
Além dos prejuízos imediatos, as ações criminosas bem sucedidas levantam suspeitas contra gestores e colaboradores da segurança: ganância, irresponsabilidade, incompetência, negligência, conivência e fraude na organização. Ou seja, além do prejuízo material da organização, o sucesso de um evento criminoso ainda deixa um prejuízo moral para o gestor e seus colaboradores. Isto aumenta a responsabilidade dos que trabalham pela segurança.

Por isto, os gestores precisam rever suas estratégias para manter a sinergia na organização; os abnegados colaboradores precisam sempre rever suas funções táticas e técnicas; e os usuários dos sistemas estarem atentos às normas de utilização... Enfim, todos estarem comprometidos e interessados na segurança, cada um no seu papel, atribuição ou missão.


Estudos de vulnerabilidades e estratégias de segurança são baseados na experiência de eventos criminosos passados, bem sucedidos ou não. Com ajuda especializada, aprende-se até com eventos criminosos ocorridos em outras organizações. A cada nova ação criminosa (bem ou mal sucedida) se pode trazer algo útil para a gestão de segurança da organização vitimada, assim como às demais.

O gestor da Segurança deve sempre motivar e apoiar os colaboradores, visando manter a sinergia do grupo. Observar os comportamentos humanos, que provocam as falhas tecnológicas e outros riscos. A prevenção e a vigilância são o ônus da segurança, pois os eventos criminosos têm natureza imprevista e inovadora.

Neste jogo de inteligência, a vigilância eletrônica pode ser uma boa tática para reduzir os custos, aumentar a eficiência e a eficácia da tarefa de vigiar. Porém, esta tática deve estar aliada a outras medidas de segurança, formando um conjunto estratégico: o sistema de segurança da organização. Um Sistema de segurança dentro do sistema econômico, que afaste a maioria dos eventos criminosos futuros, previsíveis e evitáveis, coibíveis e puníveis.

O Estigma Mitológico Apologético da criminalidade bem sucedida. (Parte V)

QUALIDADE NA GESTÃO DA SEGURANÇA
Como não existe segurança absoluta, a qualidade da segurança é sempre relativa.

Por isto, a qualidade da segurança fica relacionada à qualidade da gestão de segurança, dos processos estratégicos, dos recursos humanos e tecnológicos disponíveis, do nível de prevenção de riscos que se quer controlar diante dos riscos existentes, do nível de eficiência e eficácia das medidas de segurança, do grau de sinergia dos colaboradores, da clareza das regras estabelecidas, do fiel cumprimento de metas estratégicas e tarefas operacionais...

A sinergia só pode ser criada, e mantida, por uma Cultura de Segurança na organização. Sua ausência causa entropia e traz de volta a Mitologia Apologética do Crime: um caminho curto para o fracasso, com uma justificativa já pronta.

Para gerir a segurança é necessário desenvolver a inteligência na organização,  reduzindo a falta de planejamento. Fazendo investimentos, capacitação, treinamento e sinergia na segurança.


O processo de coaching pode ajudar o gestor a desenvolver uma visão ampla da segurança, da sua vida pessoal e da organização, capacitando-se a criar novas estratégias com “noção integral”. Uma visão clara do compartilhamento da missão, das atribuições específicas, responsabilidades de cada colaborador e dos objetivos estratégicos de cada item de segurança implantado.

Sem essa capacidade gerencial, fica difícil para o gestor - que tem inúmeras atribuições na organização para torná-la lucrativa - fazer a coordenação estratégica e tática de um plano de segurança orgânica, com a sinergia necessária.

Embora os problemas de segurança sejam complexos, é bastante comum que as organizações ignorem tudo isto e façam simples aquisições de sistemas de vigilância eletrônica, através dos setores de compras. Assim, serviços e tecnologias estratégicas são negociadas como qualquer item da administração de compras, onde se mantém o foco apenas nas vantagens comerciais das transações e nos lucros imediatos da organização, não na segurança. Esse já seria o primeiro passo em direção ao fracasso, para o qual já se tem uma desculpa pronta...

No mercado da vigilância eletrônica é rara a proposta de integração entre as tecnologias e a gestão tático-estratégica das organizações. São raras as soluções que atendam as reais necessidades de segurança das organizações e das pessoas; que respeitem as leis em vigor. De modo geral, o que existe no mercado é simples comércio: compra/ venda de objetos tecnológicos e de serviços. Comércio que pode trazer ainda + risco.

Leia: Vigilância Eletrônica: Segurança ou Risco?

PESQUISAS DE CONFIANÇA NA SEGURANÇA PÚBLICA E PRIVADA.

Vote e veja o resultado atual dessa interessante pesquisa marcada pela Digital verde, na faixa vertical ao lado >>>
 
BlogBlogs.Com.Br Planeta Voluntários - porque ajudar faz bem!